Temples no Sons no Montijo: viagem psicadélica entre o real e o sonho

By VoxPop - agosto 01, 2025

   

Na noite de 25 de julho, o público do festival Sons no Montijo foi transportado por uma onda sonora psicadélica que uniu passado e contemporaneidade com refinamento e pulsação. Temples, o coletivo inglês de neo‑psicadelia formado em Kettering em 2012 por James Bagshaw (voz e guitarra) e Tom Walmsley (baixo), consolidou uma presença hipnótica e elegante com a adição de Adam Smith (teclados e guitarra rítmica) e Rens Ottink (bateria.

    A sua estreia, Sun Structures (2014), tornou-se um hino revivalista do género, alcançando o nº 7 no Reino Unido e coronado como Álbum do Ano pela Rough Trade. Com influências assumidas pelos Byrds, Nazz, Marc Bolan, Beatles e T. Rex, a banda criou uma estética sonora tão minuciosamente trabalhada que muitos críticos reconheceram o virtuosismo técnico, mas também apontaram uma falta de originalidade profunda. Ainda assim, a entrega foi amplamente celebrada pela sua coerência, atmosfera imersiva e reverência sincera às raízes psicadélicas. Quanto a nós optamos por ignorar a parte da critica falar em falta de originalidade, porque conhecemos o seu trabalho de um outro angulo e sabemos que isso não é verdade, a sua música é a sua essência e não acreditamos que as bandas não tem que fazer musica para se vender ou ter posturas para chamar a atenção, acreditamos nas bandas que usam a usa música como a sua voz, como meio de se expressarem e é isso que Temples fazem, este estilo é a sua voz, a sua forma mais natural e original de se expressarem e acreditem que o primeiro álbum foi feito em casa de um deles e vamos lá pensar em quantas bandas conseguiram chegar onde eles chegaram dessa forma e a serem quem são, sem se venderem ao que vende, a algoritmos ou tendências que chamam a atenção efemeramente? Pois não conseguem dizer, nós conseguimos: Temples.

    Durante o concerto no Montijo, exploraram os seus êxitos mais antigos, como “Shelter Song” e “Move With The Season”, ao mesmo tempo que dava protagonismo ao seu mais recente trabalho, Exotico (2023), uma obra labiríntica, produzida por Sean Ono Lennon, que navega por paisagens de krautrock, dream-pop e temas existenciais como a impermanência e a mente selvagem. Se por um lado ser-se produzido pelo filho do John Lenon é um mérito, por outro lado as raízes da banda vem de um grupo de amigos de 20 anos que gravam um álbum em modo DIY em casa e que esse álbum teve tanto sucesso que os levou a viajar por todo o mundo, vão-nos dizer que eles não são originais, não têm mérito?

    Os seus concertos são um ritual psicadélico contemporâneo, sendo que os em nome próprio são sempre mais especiais, como em qualquer outra banda. Este concerto começou com uma aura contemplativa. Sob luzes quentes e minimalistas, os primeiros acordes de criaram uma atmosfera meditativa que instigava reflexão antes mesmo da explosão sonora. A fusão de teclados etéreos e riffs cristalinos transportou os espectadores para um estado entre sonho e vigilância.

    Quando temas como “Shelter Song” e “Mesmerise” surgiram, o palco transformou-se num caleidoscópio sonoro: guitarras jangly, vocais etéreos e harmonias que enchiam o ar com eco pós-Beatles. A familiaridade, contudo, foi reinventada, cada acorde parecia repensado para o “aqui e agora”. No coração do concerto, espaços mais recentes como faixas de Exotico moveram a experiência para um território mais cerebral e imersivo, com colagens sonoras, grooves repetitivos e um gesto performativo contido mas intenso. O público parecia hipnotizado, o que seria de esperar.

    O ponto alto chegou com a fusão entre passado e presente: o som denso dos teclados sobrepostos a riffs criaram uma paisagem emocional onde nostalgia e expansão sensorial se fundiam. Estavam menos comunicativos do que no último concerto que vimos deles no LAV, mas incrivelmente lá e para o momento

    Num psicadelismo com olhos abertos, os Temples provaram, no palco do Sons no Montijo, que a música psicadélica pode ser artesanal, íntima e emocionalmente potente. Não foi um espetáculo de luzes nem de ostentação, mas foi um cerimonial de presença compartilhada. A sua música, direto e sinuosa, serviu de catalisador para algo maior, uma fusão entre o real do Tejo e o visionário do som.

    Este concerto permitiu perceber que Temples não apenas evocam o passado psicadélico, como também o reescrevem com clareza, visão e urgência contemporânea. Embora o concerto tenha terminado de forma meio que inesperada, devido a problemas com o gerador, o que nos deixou muito tristes, a banda viveu o momento com calma e sempre a tentar manter o público com refrões, com James a levantar a guitarra como um vicking o martelo, mas não houve outra solução sem ser dar como terminado o concerto, foi chato, mas foi algo que pode acontecer em qualquer concerto e foi gerido da melhor forma possível.

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