As Fin del Mundo no Festival Sons do Montijo: A Tempestade sonora que nos consumiu

By VoxPop - agosto 01, 2025

    

  Há concertos que são uma experiência que nos acrescenta porque nos conseguem fazer viver o concerto com todos os sentidos. As  Fin del Mundo no Festival Sons do Montijo foi um desses momentos. A banda argentina, composta por Lucía Masnatta (guitarra e voz), Julieta Heredia (guitarra), Yanina Silva (baixo) e Julieta "Tita" Limia (bateria), trouxe ao palco uma onda sonora tão profunda e imersiva que, logo ao primeiro acorde, sentiu-se como se o tempo e o espaço tivessem parado.

    Formadas em Buenos Aires, Fin del Mundo construíram uma sonoridade que reflete a sua terra implacável, misturada com a pulsante energia da cidade. O nome da banda, que faz referência ao "fim do mundo", não é apenas uma provocação, é uma metáfora para a sua visão apocalíptica e a sua capacidade de transformar esse sentimento de inevitabilidade em música. Cada acorde, cada riff de guitarra, parecia um pedaço do universo que se desfazia e se recriava ali, diante de nós.

    A noite iniciou-se com "Una temporada en el invierno", a canção perfeita para abrir o concerto, que imediatamente nos transportou para uma paisagem invernal e introspetiva. As guitarras tremiam, suaves e cortantes e a presença delas, foi como se o frio se espalhasse pelo recinto, criando uma atmosfera de antecipação, mas também de um certo acolhimento, como se algo de importante estivesse prestes a acontecer.

    A transição para "Cuando todo termine" veio como uma tempestade calma, onde a tensão crescente nas guitarras de Julieta e a batida sólida de Tita davam espaço a uma reflexão mais profunda sobre o fim, um fim que, em vez de ser temido, era aceite com um certo desapego. Não se tratava de desespero, mas de uma resignação quase poética, que trouxe a plateia para mais perto daquilo que Fin del Mundo queria transmitir: o fim de uma era, mas também o começo de algo novo.

    "El día de las flores" foi o ponto de contraste, onde a melancolia foi suavemente substituída por uma sensação mais sonhadora e até luminosa. Como se as flores desabrochassem num inverno congelante, e a música parecia ser uma fuga temporária da rigidez do mundo lá fora. Em seguida, "Vivimos lejos" trouxe de volta a densidade emocional, com as guitarras a reverberar como um eco distante. Uma sensação de saudade pairava no ambiente, mas não era nostálgica, era uma saudade do que ainda não aconteceu, do que talvez nunca venha a acontecer.

    Por fim apresentaram "El fin del mundo", a música que transformou a noite numa verdadeira catástrofe sonora. Foi o momento em que tudo desmoronou. As guitarras gritaram, o baixo de Yanina estremeceu as fundações do espaço e a bateria de Tita foi como uma batida de coração acelerada, sinalizando o caos iminente. A música explodiu num crescendo de energia, onde o post-punk e o shoegaze se fundiram, criando uma atmosfera de destruição sublime.

    "El próximo verano" trouxe uma leve brisa de esperança, quase como se o verão fosse uma promessa num mundo perdido, antes da intensificação com "La noche". Aqui, as guitarras pareciam fazer a noite se estender para sempre, e a energia voltou a ser abrasadora. Mas foi em "Refugio" que a banda conseguiu criar uma pausa, uma quietude quase espiritual. A música sugeria que, por mais que o mundo ruísse ao redor, sempre haveria um lugar para nos refugiarmos, onde a música poderia nos salvar.

    Com "Devenir paisaje", as guitarras de Julieta e Heredia foram transformando o ambiente numa espécie de paisagem líquida, onde o som se diluía e se reconstruía, deixando-nos com a sensação de que o tempo estava a desaparecer. A seguir, "Vendrá la calma" chegou como uma breve janela de luz no meio da tempestade. Não era exatamente calma, mas sim uma promessa de que, após a turbulência, um novo ciclo se iniciaria.

    O concerto chegou ao seu clímax com "El incendio", uma faísca que incendiou tudo ao seu redor. Não era só o fim de uma música, era o fim de uma era, mas também o despertar para a chama que continua a arder. As distorções, as batidas mesclaram-se numa explosão de som, deixando o público atónito, imerso num fogo que não se apagava.

    Formadas em 2016, Fin del Mundo rapidamente se fizeram notar pela sua capacidade de transportar quem as ouve para um outro universo. No entanto, foi após a sua performance para a rádio KEXP em 2022, gravada no CCK em Buenos Aires, que a banda ganhou visibilidade internacional. O seu som singular, marcado por atmosferas densas e poéticas e a sua energia crua, conquistaram uma legião de fãs por todo o mundo. As letras de Fin del Mundo são o grito de quem observa o mundo a desmoronar e recusa-se a sucumbir-lhe. São uma manifestação de resistência, introspeção e força, mesmo quando a realidade parece estar à beira do fim.

    A magia de Fin del Mundo está na sua habilidade de transformar o silêncio em som, o som em emoção e a emoção numa experiência única. Cada concerto, como o vivido no Montijo, é uma viagem sensorial que nos arrasta para dentro do seu mundo e nos deixa com a sensação de que, mesmo que o fim venha, a música será sempre a nossa salvação. Elas não tocam apenas para serem ouvidas, tocam para serem sentidos.

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