A voz tranquila que canta devagar o que já muitos sabem de cor
Num Musicbox cheio, entre copos na mão e silêncios cúmplices, Carl Karlsson apresentou Caminhos com a calma de quem sabe que não precisa de provar nada. Com um EP acabado de sair do forno e uma base de fãs que já sabia as letras de trás para a frente, o músico sueco-português mostrou, no passado dia 14 de maio, que a sua música não precisa de pressa, só de espaço para respirar.
A entrada em palco foi discreta, sem jogos de luz nem grandes gestos. Apenas o som, e logo se percebeu que era disso que a noite ia ser feita. Acompanhado por uma banda afinadíssima (com Martim Seabra no baixo, Velhote do Carmo na guitarra e Kyle Quest na bateria), Carl trouxe para o subterrâneo lisboeta um set feito de texturas quentes, harmonias abertas e batidas que flutuam entre géneros.
Jazz, soul, bossa nova, hip-hop — Caminhos tem tudo isto e mais qualquer coisa. Mas ao vivo, a mistura soa ainda mais solta, mais física, mais dançável. Sem precisar de “fundir” nada — simplesmente tocando o que lhe faz sentido. A música vive num ponto de equilíbrio raro: sofisticada, sem ser elitista; acessível, sem cair no óbvio.
O registo vocal é suave, até contido, é precisamente essa contenção que lhe dá força: há ali uma honestidade crua, quase tímida, que conquista sem fazer barulho. Entre músicas, poucas palavras. A presença é generosa, mas nunca forçada. Está ali quem quer partilhar, não quem precisa de atenção.
O público dele estava lá não estava só a assistir — estava lá com ele. Em algumas canções, ouviram-se vozes vindas da frente da sala, fãs que sabiam cada verso e não hesitaram em fazer parte do refrão. O ambiente era íntimo, mas não silencioso, um completo equilíbrio.
No momento final, a banda soltou-se numa jam onde o groove tomou conta do palco. Numa vibração certa, feita para quem sabe ouvir.
Texto: Beatriz Mendes
Fotografia: Sofia R.
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