A não perder no Primavera Sound Porto: The Jesus Lizard - O Belo no Feio, o Sagrado no Escombro

By VoxPop - janeiro 03, 2025

 

    O nome é blasfémia. A música é blasfémia. E ainda assim, há algo quase espiritual no caos que The Jesus Lizard exala, como se a salvação estivesse algures entre a distorção, o suor e o impacto de um corpo a cair de costas no palco.

    Eles não tocam. Eles colapsam.
    Eles não cantam. Eles confrontam.
 E quando David Yow agarra o microfone como quem segura uma faca, há um tipo de verdade ali, uma verdade que não se diz em palavras, mas em gritos, em quedas, em olhos arregalados e joelhos ensanguentados.

    Em Chicago, finais dos anos 80, The Jesus Lizard nascem como um erro necessário. Um erro bonito. A guitarra de Duane Denison soa a vidro partido dentro de um amplificador. O baixo de David é uma locomotiva com motor a raiva. A bateria, militar e maníaca, desfaz o chão.
É noise rock, dizem. É pós-hardcore, afirmam. Mas a verdade é que não há rótulo que aguente: é só barulho com intenção, como se cada nota quisesse arrancar-te uma camada da pele até chegares a ti mesmo.

    Discos como “Goat” ou “Liar” não passam bem numa playlist casual. Exigem volume. E desconforto. Ouves como quem enfia os dedos numa tomada e sorris.

    No Primavera Sound Porto 2025, The Jesus Lizard não vão tocar para agradar, vão tocar como quem precisa exorcizar alguma coisa.
    E se tiveres sorte — ou azar, depende da tua disposição para o perigo — David Yow vai atirar-se à tua cabeça, a cuspir versos, a rir de tudo, e tu vais perceber:

Isto. Isto é rock.

Não o de rádio ou das redes sociais. O de verdade.

 


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