A não perder no Primavera Sound Porto: The Jesus Lizard - O Belo no Feio, o Sagrado no Escombro
O nome é blasfémia. A música é blasfémia. E ainda assim, há algo quase espiritual no caos que The Jesus Lizard exala, como se a salvação estivesse algures entre a distorção, o suor e o impacto de um corpo a cair de costas no palco.
Eles não tocam.
Eles colapsam.
Eles não cantam. Eles confrontam.
E quando David Yow agarra o microfone como quem segura uma faca, há um tipo de
verdade ali, uma verdade que não se diz em palavras, mas em gritos, em quedas,
em olhos arregalados e joelhos ensanguentados.
Em Chicago, finais
dos anos 80, The Jesus Lizard nascem como um erro necessário. Um erro bonito. A
guitarra de Duane Denison soa a vidro partido dentro de um amplificador. O
baixo de David é uma locomotiva com motor a raiva. A bateria, militar e
maníaca, desfaz o chão.
É noise rock, dizem. É pós-hardcore, afirmam. Mas a verdade é que não há rótulo
que aguente: é só barulho com intenção, como se cada nota quisesse arrancar-te
uma camada da pele até chegares a ti mesmo.
Discos como “Goat”
ou “Liar” não passam bem numa playlist casual. Exigem volume. E desconforto.
Ouves como quem enfia os dedos numa tomada e sorris.
No Primavera Sound
Porto 2025, The Jesus Lizard não vão tocar para agradar, vão tocar como quem
precisa exorcizar alguma coisa.
E se tiveres sorte — ou azar, depende da tua disposição para o perigo — David
Yow vai atirar-se à tua cabeça, a cuspir versos, a rir de tudo, e tu vais
perceber:
Isto. Isto é rock.
Não o de rádio ou das redes sociais. O de verdade.
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