O Sol da Caparica 2024: Um Terceiro Dia de Explosão Sonora e Emoção
O Sol da Caparica não poupou energia no seu terceiro dia, com uma programação marcada por uma verdadeira explosão de estilos e emoções. Entre o pop juvenil, o rock de culto, a homenagem sentida e o groove tropical, o festival voltou a afirmar-se como um reflexo vibrante da pluralidade musical que compõe a nossa identidade cultural. Noite dentro, nomes como Bárbara Bandeira, Xutos & Pontapés, Most Mortem (tributo a José Pinhal), Capicua e Gilsons dominaram os palcos, oferecendo ao público experiências tão distintas quanto memoráveis.
Palco Sagres: Do pop contagiante ao rock eterno
A noite começou com o brilho natural de Bárbara Bandeira, uma das vozes mais acarinhadas da nova geração pop portuguesa. Com carisma e à-vontade em palco, a artista presenteou os fãs com temas emotivos como “Eu Te Espero” e “A Vez de Chorar”. As letras confessionais e a entrega sincera de Bárbara conquistaram de imediato a plateia, que não hesitou em cantar cada refrão de olhos fechados. Foi uma abertura emocional, com sabor a promessas cumpridas.
De seguida, Os Quatro e Meia levaram o público por uma viagem que equilibrou a leveza da pop com a profundidade emocional do rock cantado em português. Canções como “O Tempo Vai Esperar” e “Sábado” criaram momentos de introspecção e comunhão, com refrões entoados por várias gerações em uníssono.
Mas o verdadeiro clímax da noite chegou com os Xutos & Pontapés. Assim que os primeiros acordes de “Ai Se Ele Cai” ecoaram, o recinto explodiu. Foi mais do que um concerto: foi uma celebração colectiva de uma banda que moldou a história do rock nacional. Tim, Gui, Kalú e Mário mostraram que continuam a ser uma força ao vivo, com a batida firme de Kalú a manter a espinha dorsal do som Xutos bem viva. A ausência de Zé Pedro — sentida e respeitada — continua a marcar cada atuação, mas a sua presença paira, indelével, no espírito da banda e nas vozes que cantam as suas músicas. Mais do que nostalgia, foi prova de que o rock não morre, não envelhece e não sai de moda — sobretudo quando é autêntico, cru e cheio de significado. E sim, num tempo em que muitos êxitos virais se esvaziam ao segundo verso, ouvir letras com peso e guitarras com alma continua a ser um ato de resistência.
Palco Bandida do Pomar: Homenagem, resistência e groove tropical
Enquanto o Palco Sagres reunia multidões à boleia do pop e do rock, o Palco Bandida do Pomar ofereceu uma noite igualmente intensa, mas com outras emoções à flor da pele.
A começar com José Pinhal Most Mortem, projeto que homenageia o legado culto do cantor e compositor português desaparecido em 1984. Em versões surpreendentes de temas como “Vento da Cova” e “Canto de Vingança”, a banda conseguiu algo raro: respeitar a estética original, trazendo-lhe ao mesmo tempo uma nova vida. Foi uma celebração inesperada e profundamente emocional, que transportou o público para um universo português entre o bizarro e o bonito, entre o kitsch e o trágico.
Logo depois, Capicua subiu ao palco com a mesma firmeza que a tem mantido no topo do rap nacional. Sem pirotecnias ou poses ensaiadas, a MC do Porto conquistou o público com rimas afiadas, reflexões sociais e uma entrega emocional desarmante. Canções como “Medusa” ou “Casa no Campo” ecoaram entre os presentes, que responderam com atenção e respeito. Num mundo que muitas vezes se contenta com o superficial, Capicua continua a provar que há lugar para palavras que incomodam, desafiam e transformam.
A encerrar a noite, chegaram os Gilsons, e com eles o calor do Brasil. Com uma sonoridade que cruza MPB, soul e groove com uma leveza quase hipnótica, a banda brasileira criou um momento de comunhão tropical, digno de pôr qualquer alma a dançar. Temas como “Verdade” e “Coração” foram recebidos com entusiasmo, e o público — mais numeroso do que é hábito naquele palco — correspondeu à altura. Foi apenas a segunda vez que os vimos ao vivo, e a sensação é clara: a sua energia é genuína e contagiante. Um dos melhores concertos da noite.
Um festival com espaço para todos os sons
O terceiro dia do Sol da Caparica 2024 foi um exemplo claro da força deste festival enquanto celebração da diversidade musical. Com atuações memoráveis nos dois palcos principais, o evento voltou a mostrar que é possível conciliar o passado e o presente, o mainstream e o alternativo, o entretenimento e a mensagem.
0 comments