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Roadkill – earth bound forever: emo pastoral para tempos pós-apocalípticos

By VoxPop - outubro 09, 2025

   

 Depois de um álbum de estreia que soava a carta de amor ao fim do mundo, os roadkill regressam com earth bound forever — e em vez de repetir a fórmula, viram o jogo. O caos continua lá, mas agora é mais contido, mais maduro e, curiosamente, mais perigoso. Como uma cicatriz que já não dói, mas continua a arder quando chove.

    Se What to Do When the Earth Swallows You Whole era o grito, earth bound forever é o eco. Um disco que troca o dramatismo das paredes de som pelo peso do silêncio — e sai a ganhar com isso. São 12 faixas que se recusam a fazer barulho só por fazer. As guitarras soam limpas, os vocais vêm menos processados, e há espaço entre as notas: espaço para respirar, pensar e sentir e sem a necessidade de explodir a cada refrão.


    Não significa que a banda tenha perdido intensidade. O emo ainda corre nas veias, mas agora com a sobriedade de quem sobreviveu ao próprio apocalipse. É um emo menos MySpace (temos saudades do MySpace) e mais campo molhado. Ouvem-se ecos de Keane nos momentos mais melódicos, uma pitada da fase Adore dos Smashing Pumpkins, e aquele espírito soturno dos primeiros discos dos Coldplay (antes dos lasers e da pirotecnia emocional e comercial), ou então nada disto e são um batido de estilos misturado e trazido cá para fora em formato original, calmo, mas com uma intensidade emocional brutal.

Produzido com estrutura de filme — introdução, interlúdio, epílogo e tudo incluído — o álbum convida a ser ouvido do início ao fim, sem saltos. Nada de playlists partidas: aqui, as faixas falam umas com as outras, deslizam suavemente, como cenas de uma história maior. Este álbum é um percurso emocional, que vale a pena percorrê-lo.


Liricamente, earth bound forever é uma reflexão sobre o que acontece depois do colapso. Depois da impulsividade, depois da destruição. Não há finais felizes nem recomeços cinematográficos — só a realidade morna de continuar em frente. A aceitação chega, sim, mas vem com cinismo e cansaço. É bonito, mas desconfortável. Um retrato cru e honesto da juventude emocional do pós-2020: exausta, mas ainda a mexer-se.


Os roadkill estão aqui para tentar perceber o que fazer com o que sobrou do mundo. E, nesse processo, criaram um dos álbuns mais genuínos do ano. Não é revolucionário. É necessário.

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