O jazz sempre
foi um território de exploração, mas poucos o desbravam com a ousadia dos
YAKUZA. Não são uma banda – nunca foram. São um organismo vivo, mutável,
imprevisível. Um coletivo de músicos que rejeita fronteiras e se move ao sabor
da experimentação, cruzando jazz com eletrónica, groove com psicadelismo,
tradição com vanguarda.
Depois
de AILERON, que os colocou no radar da música portuguesa contemporânea, os
YAKUZA voltam a romper convenções com ‘2’, um álbum que não se prende a rótulos
nem a expectativas. Mais do que um disco, é uma viagem sonora, um labirinto
onde sintetizadores etéreos se entrelaçam com baterias pulsantes, baixos
robustos dançam com teclados luxuriantes e a improvisação se transforma na
única regra possível.
Têm
mostrado que a sua música respira melhor em palco. Entre concertos intensos e
registos como LIVE at Festival Iminente, ficou claro que os YAKUZA são uma
força que não se esgota no estúdio – crescem, moldam-se e reinventam-se ao
vivo. Com 2, essa energia toma forma num trabalho de estúdio que soa como um
organismo em movimento, um registo em constante metamorfose.
Cinco
Criadores, Um Universo Sonoro Infinito
Os
YAKUZA são uma constelação de músicos brilhantes, cada um com a sua órbita, mas
todos atraídos por um centro comum: a procura do som sem amarras. Afonso Serro,
fundador de Mazarin e Atalaia Airlines, injeta uma visão cinematográfica e
expansiva. Afta3000, baixista de alma eletrónica, constrói grooves elásticos
que desafiam a gravidade. Pedro Ferreira, membro dos Quelle Dead Gazelle e
produtor de nomes como Pedro Mafama, Criatura e Expresso Transatlântico, molda
texturas com precisão cirúrgica. Alexandre Moniz, presença incontornável no
indie português com os Galgo, traz a inquietação e o espírito exploratório.
Pedro Nobre, jazzista de vocação global (dividido entre Portugal e a Holanda),
completa a equação com um pé na tradição e outro no desconhecido.
Cada
um deles é um arquiteto do som, mas juntos formam algo maior do que a soma das
partes: um organismo onde cada nota parece uma respiração e cada batida um
impulso vital.
O
Jazz Que Dança, A Eletrónica Que Sonha
Se
os YAKUZA fossem um filme, 2 seria um thriller sci-fi rodado numa cidade
vibrante e futurista, onde os clubes de jazz flutuam no ar e as pistas de dança
respiram improvisação. O disco abre com “AIDA INTRO”, uma peça que mergulha no
free jazz de atmosferas líquidas, onde cada instrumento se move como um corpo
celeste numa órbita imprevisível.
Depois,
o álbum desliza para territórios onde o jazz encontra o transe, como em “TRUQUE
DI MENTE”, onde sintetizadores hipnóticos dialogam com um baixo serpenteante,
ou “BATOTA”, que transpira groove e sedução. Em “MEIA DOSE”, a composição ganha
uma fluidez cinematográfica, como se fosse a banda sonora de um sonho elétrico.
Os
YAKUZA criam mundos, há momentos de contemplação e outros de pura energia
cinética, mas o que nunca falta é a vontade de desafiar o ouvinte. A bateria
sincopada empurra-nos para a frente, os teclados abrem portas para dimensões
paralelas, e o baixo pulsa como um coração que nunca adormece.
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