A não perder no Primavera Sound Porto: Destroyer - o dândi espectral que desce ao Porto
Dan Bejar não sobe simplesmente a um palco, ele materializa-se. Surge envolto em camadas de ironia, nevoeiro sonoro e versos que podiam muito bem estar gravados em mármore. Com Destroyer, ele construiu um universo onde o tempo se dissolve e as canções soam a sussurros de uma festa decadente, ouvidos através de uma parede.
Este Junho, esse universo faz escala no Primavera Sound Porto. E quem conhece Bejar sabe que esta não será uma actuação qualquer, será uma aparição rara. Uma oportunidade de ver, ao vivo, um dos mais enigmáticos artesãos da canção indie, alguém que há mais de duas décadas compõe como quem escreve num diário de sonhos: com ecos, manchas, interrupções e beleza.
O seu mais recente trabalho, “Dan’s Boogie”, é mais um capítulo nesse livro infinito — um disco que por vezes se arrasta, por vezes levita, entre sintetizadores gastos, saxofones a meio gás e frases que soam a memórias de alguém que talvez nunca fomos. O som é cinematográfico, urbano, impregnado de uma elegância decadente e ao vivo, ganha corpo de miragem.
No Parque da Cidade, Bejar e os seus músicos vão erguer o seu mundo à parte, entre as árvores e o rumor muito distante do mar. Não será um concerto de euforia, será um instante de suspensão, uma comunhão entre estranhos que se reconhecem na beleza do desalinho.
No meio da pulsação eléctrica do festival, Destroyer será o momento de desaceleração lúcida. Um sussurro no meio do ruído. Um espelho onde o público não verá o seu reflexo, mas talvez aquilo que andava a evitar sentir.
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