Há artistas que dominam o palco com presença física. Floating Points domina-o com atenção. Sam Shepherd, o cérebro por trás do projecto, não estará ali para entreter, estará ali para construir algo que nos transcende.

    Para quem ainda não o conhece: Floating Points é o pseudónimo de Sam Shepherd, produtor britânico, DJ e músico com formação académica em neurociência. Ao longo da última década, tornou-se um dos nomes mais respeitados da electrónica contemporânea, explorando territórios que vão do house ao jazz, do ambiente à música orquestral. Os seus lançamentos atravessam géneros com uma fluidez rara, sempre guiados por uma curiosidade quase científica e um ouvido refinado.

    Álbuns como “Elaenia” (2015) e “Crush” (2019) revelaram a sua capacidade de unir complexidade rítmica com emoção, mas foi com “Promises” (2021), uma colaboração sublime com o saxofonista Pharoah Sanders e a London Symphony Orchestra, que se afirmou como um compositor verdadeiramente transversal, capaz de criar obras que ressoam tanto nas salas de concertos como na pista de dança.

    No Primavera Sound, a sua presença representa uma espécie de contraponto à histeria dos grandes momentos de euforia. Ao vivo, os seus sets oscilam entre o minimalismo delicado e a tensão rítmica quase hipnótica, num equilíbrio raro entre pista e contemplação. É uma música que se constrói em camadas, que exige escuta, e que recompensa os mais atentos.

    O seu espectáculo não será o mais ruidoso nem o mais visualmente explosivo do festival, mas será, provavelmente, um dos mais sofisticados. A força do seu som está precisamente na subtileza, na forma como preenche o ar sem o dominar, como se a música fosse uma arquitectura invisível onde cada frequência tem lugar.

    Para quem procura no Primavera Sound mais do que catarse, Floating Points oferece outra coisa: profundidade. Um momento para desacelerar, escutar com o corpo inteiro, e talvez sair dali com o ouvido (e o mundo) ligeiramente transformados.