A não perder no Primavera Sound Porto: Fontaines D.C.: Poetas de Concreto Armado
Não é segredo que
adoramos Fontaines D.C., já os vimos mais vezes do que as que conseguimos
contar, mas são uma das bandas que vemos em todas as oportunidades que temos, a
voz, as letras, a musica, as emoções que transmitem, é pura e simplesmente algo
demasiado grandioso para se perder.
Eles não fazem
canções. Fazem calçadas rachadas, muros grafitados com versos que cheiram a
cerveja choca e desilusão. Os Fontaines D.C. não querem salvar o rock — querem
empurrá-lo para um beco escuro e deixá-lo a mastigar as próprias mágoas.
São de Dublin, mas
podiam ter nascido em qualquer cidade onde a juventude lateja contra o tédio.
São filhos bastardos do punk, educados por livros roubados e bares mal
iluminados. Grian Chatten, o vocalista, não canta — recita, declama, expele. A
sua voz é uma buzina poética que interrompe o trânsito mental de quem ouve.
No álbum de
estreia, “Dogrel”, eram cães de rua. Em “A Hero’s Death”, estavam exaustos mas
ainda a morder. Em “Skinty Fia”, entraram na floresta do pós-exílio, onde as
raízes da identidade irlandesa se misturam com a lama do desencanto. "Romance" é o último álbum lançado, mas temos a certeza que a setlist para o Primavera Sound vai incluir singles passados que tanto adoramos. Cada disco
é um capítulo de uma autobiografia que ninguém pediu, mas todos deviam ler.
No Primavera Sound
Porto 2025, os Fontaines D.C. não vão entreter. Vão colidir. E nesse embate
entre distorção e silêncio, há sempre alguém na plateia que se reconhece, que
entende que a fúria, quando vem com palavras certas, é também uma forma de
ternura e poesia que nos avassala as emoções.
Eles não vendem
revolução.
Eles vendem espelhos partidos.
E, estranhamente, não há nada mais necessário.
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