Tivemos o imenso privilégio de ser convidados para assistir ao concerto da extraordinária banda Trip Sitter, e que experiência verdadeiramente inesquecível. Confessamos, sem qualquer pudor, que até ao momento não conhecíamos o seu trabalho, mas ao ouvirmos a envolvente “Try to Carry One”, fomos imediatamente conquistados. A sua sonoridade foi uma verdadeira revelação, uma fusão arrebatadora de influências que nos transportou para um mundo sonoro que remete para o estilo único de Feng Suave, com uma pitada do groove irresistível de Two Feet. Era, sem dúvida, uma experiência musical que não podíamos perder, e o desejo de os ver ao vivo foi imediato.
O concerto teve lugar no Village Underground, um espaço que, apesar de não figurar entre as nossas venues preferidas — principalmente devido à acústica que, por vezes, nos parece pouco apurada e aos preços exagerados das bebidas, que são um pouco excessivos para concertos —, ainda assim, oferece um ambiente interessante. No entanto, sabemos que o mais importante é apoiar as bandas ao máximo, e foi com esse espírito que nos dirigimos ao local, prontos para dar o nosso melhor contributo e desfrutar ao máximo do espetáculo.
Antes de Trip Sitter subir ao palco, tivemos a oportunidade de assistir à banda de abertura, os Gomojo. Já os tínhamos visto em outras ocasiões e, de uma forma geral, gostamos bastante da sua proposta sonora. Contudo, neste concerto em particular, houve alguns problemas técnicos que prejudicaram a experiência. O som não estava impecável e, em certos momentos, tornou-se difícil ouvir claramente o vocalista, o que foi uma grande pena. Ficámos, naturalmente, com receio de que Trip Sitter pudesse enfrentar o mesmo tipo de desafios acústicos, mas felizmente, para nossa surpresa e alívio, isso não aconteceu.
Quando o palco se iluminou com uma decoração psicadélica bastante interessante, a atmosfera transformou-se num cenário completamente envolvente. Tocaram com uma formação coesa e energética, composta pelos quatro músicos que já sabíamos integrar a banda, juntamente com uma backvocals feminina que trouxe uma camada adicional de profundidade e complexidade ao som da banda. A energia que emanavam era avassaladora, uma simbiose perfeita entre os músicos e o público, criando uma ligação palpável e inebriante que só o melhor do rock pode proporcionar.
O vocalista Duda, com a sua presença magnética, destacou-se imediatamente. Ele possui um estilo absolutamente único e inconfundível, uma capacidade rara de estabelecer uma ligação emocional intensa com o público. A sua voz, profunda e imersiva, tem uma intensidade tão avassaladora que parece ser a própria personificação da música. Cada nota que entoava era carregada de uma expressividade que fazia com que o público se sentisse, literalmente, absorvido pela sua performance. Duda parecia estar completamente imerso na sua arte, como se a sua alma estivesse entrelaçada com as melodias que surgiam. A voz encaixa perfeitamente na atmosfera psicadélica da banda, conferindo à música uma carga emocional única que ecoava nas profundezas do coração de cada ouvinte.
Trip Sitter tem vindo a destacar-se pela sua habilidade impressionante em equilibrar momentos de riffs em solo, quase avassaladores, com secções mais suaves e atmosféricas, criando uma dinâmica sonora que é ao mesmo tempo intensa e introspectiva. Cada música parece ser uma viagem sonora, uma jornada que leva o ouvinte através de paisagens sonoras densas, pesadas, mas também suaves, etéreas, convidando à introspeção. Esta capacidade de transitar entre essas duas extremidades sonoras é uma das maiores forças da banda.
Outro aspeto a destacar, e que não podemos deixar de mencionar, é o papel crucial das teclas na música da banda. Elas não apenas criam uma atmosfera psicadélica densa e misteriosa, mas também imbuem a música de uma pulsação envolvente, um ritmo irresistível que entra na pele e faz o sangue correr mais rápido, instigando uma vontade de dançar. Trazendo à música uma textura encantatória, criando momentos etéreos que parecem envolver o público numa espiral de sensações. Cada acorde parecia transportar-nos ainda mais para o universo psicadélico da banda, envolvendo-nos numa atmosfera muito sensorial.
O concerto foi, sem dúvida alguma, um triunfo absoluto. Desde o primeiro acorde, a banda conseguiu cativar o público de forma magistral, fazendo-nos dançar, sentir e viver a música com uma intensidade imensa. Cada momento do concerto foi uma experiência sensorial única, em que o público e a banda pareciam fundir-se numa experiência conjunta, criando uma ligação entre músicos e espectadores clara e bastante visível, conseguindo uma verdadeira conexão emocional que tornou a noite ainda mais especial. Não apenas ofereceram uma boa performance, como também estabeleceram um vínculo genuíno com todos os presentes, algo que nem todas as bandas conseguem fazer com tanta eficácia.
Sem dúvida alguma, são uma banda que vale a pena ver novamente e uma promessa segura no universo musical. Têm todas as condições para conquistar ainda mais fãs e continuar a encantar o público com a sua música vibrante, inovadora e profundamente emotiva.
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