Dia 7 de outubro, trouxe ao Clube Cosmos, em Lisboa, uma das noites mais intensas e singulares do ano. Perante uma sala absolutamente lotada, Escape-ism , a mais recente encarnação do incansável Ian Svenonius,  subiu ao palco com um concerto que foi puro combustível para corpo e espírito.

    Conhecido como o cérebro criativo por trás de formações que marcaram o underground americano, como The Make-Up, Chain & the Gang e os pioneiros Nation of Ulysses, Svenonius confirmou em Lisboa tudo aquilo que o torna uma presença incontornável: atitude, magnetismo e uma visão artística que não pede licença.

    Em palco, a sua reputação de provocador nato e performer carismático não só foi honrada como também amplificada. Com Escape-ism, Svenonius apresenta uma proposta musical que escapa a definições fáceis, um universo próprio onde o garage rock de raiz se funde com batidas lo-fi cruas e spoken word urgente, criando uma atmosfera crua, envolvente e estranhamente hipnótica.

    A formação é mínima, mas cada elemento carrega peso. Svenonius assume a dianteira como vocalista, empunhando a guitarra elétrica com energia elétrica. A seu lado, Alexis Krauss entrega o pulso rítmico através do baixo, ancorando o espetáculo com uma presença firme e determinada. As batidas pré-gravadas completam o tripé sonoro, desenhando uma cadência quase ritual. Sobre este pano de fundo repetitivo e intencionalmente cru, Svenonius dispara os seus discursos em tom de sermão, numa abordagem que ressoa mais como uma pregação carregada de intenção do que como simples canção.

    A atuação, marcada por uma intensidade contínua e uma presença cénica avassaladora, transformou o ambiente do Cosmos num espaço em combustão controlada. O público, colado ao palco, rendeu-se ao pulso da música e à energia implacável que tomou conta da noite.

    O resultado foi um momento de comunhão sonora entre artista e audiência, onde a celebração do espírito DIY, da liberdade criativa e da dança sem freios encheu o escuro da noite lisboeta com luz própria. Foi uma daquelas noites em que tudo se alinha: o espaço, o som, a entrega, uma noite para recordar.