Picanha de Chernobill: O Fogo e a Alma de Cada Nota em Lisboa

By VoxPop - julho 24, 2025

 

 Na noite em que os Picanha de Chernobill foram os donos do palco do Tokio Lisboa, levaram-nos a uma verdadeira experiência, vamos chamar-lhe "trip musical", que é quando somos totalmente absorvidos pela música. Uma viagem ao coração da música, onde os limites entre o palco e a plateia desapareceram e o som torna-se a única linguagem. A banda, vinda das ruas do Brasil, levou o público a um espaço onde o tempo parecia suspenso, onde o ritmo e a melodia se entrelaçaram numa simbiose perfeita, criando uma atmosfera elétrica e carregada de intensidade.

    Antes do concerto, entrevistamos os Picanha de Chernobill e ficámos surpresos com o modo como vivem a música. Para eles, a música é muito mais do que uma profissão: é a essência da sua existência, o motor que os move, a forma como se expressam e se conectam com o mundo. A experiência acumulada de anos a tocar nas ruas, em contato direto com as pessoas, fez com que adquirissem uma capacidade única de ler o público, de entender as suas reações e de criar uma ligação emocional instantânea. Para os Picanha de Chernobill, a rua não é apenas onde começaram a sua jornada, mas o palco do mundo. Cada esquina, cada praça, cada rua é o seu espaço de expressão, onde podem ser autênticos, verdadeiros, e falar diretamente ao público. Quando subiram ao palco do Tokio Lisboa, já sabiam que a sua missão seria criar algo único, algo que transcende o simples ato de tocar. E atenção porque apesar das ruas serem o seu grande palco, aquele onde sentem a conexão e criam as suas maiores experiências, eles também já tocaram em palcos como o Lollapalooza. 

A música deles, que flui de forma intensa e sem reservas, reflete exatamente isso: uma expressão autêntica daquilo que vivem e sentem. A banda tem uma intensidade bruta, mas também uma delicadeza inesperada em certos momentos, que prende a atenção e desafia o público a não só escutar, mas a se entregar ao som. Cada membro da banda é, por si só, um artista de grande talento, mas, quando unidos, criam uma sinergia perfeita, que transporta a música para um plano mais elevado.

O guitarrista Chico foi, sem dúvida, um dos grandes destaques da noite. Com a sua guitarra brasileira de 10 cordas, mostrou não apenas uma técnica refinada, mas uma verdadeira linguagem musical própria. Cada movimento das suas mãos parecia dialogar com as cordas, traduzindo emoções e sentimentos profundos de forma única. Não há como ignorar o seu dom natural de transformar a guitarra numa extensão da sua voz, fazendo com que cada acorde ganhasse um peso emocional inconfundível. A guitarra de Chico não toca simplesmente para preencher o espaço — ela fala com o público, cria pontes invisíveis entre os músicos e a plateia. Sua forma de tocar, com a precisão e a paixão de um guitarrista brasileiro de raiz, coloca a sua música numa posição de destaque dentro da cena musical.

Mas o talento de Chico é apenas uma das facetas de uma banda composta por músicos que são verdadeiros mestres nos seus instrumentos. O baixo de Matheus foi a espinha dorsal do concerto, fornecendo fundamento e textura à música. Com um estilo pulsante e técnico, Matheus não se limitou a fazer o papel de apoio, mas dominou as frequências graves do palco, criando texturas rítmicas complexas que mantiveram o groove sempre fluindo. A sua forma de tocar é dinâmica e expressiva, alternando entre linhas mais intensas e sólidas e momentos mais delicados e melódicos, sempre de forma impecável e precisa, mantendo a energia e o ritmo a disparar pelo público. Seu baixo não é apenas um suporte; é uma voz que transmite emoção de forma intensa, dialogando com os outros instrumentos e dando profundidade à música. Em várias passagens do concerto, Matheus mostrou-se um artista do groove, capaz de criar camadas de som que se infiltram nas fibras do corpo, fazendo o público sentir cada vibração com uma intensidade quase física. Seus baixos eram poderosos, groovados, mas também suaves e melódicos, numa alternância que mantinha o concerto sempre dinâmico.

Ao lado dele, Fernando, o baterista, foi um verdadeiro batedor de corações. A sua batida era a batida do próprio tempo, com uma energia que parecia alimentar a alma da banda. A sua forma de tocar, precisa mas ao mesmo tempo orgânica, trouxe à música uma energia crua, que nunca deixou de crescer. Fernando tem uma presença de palco notável, e o modo como se entregou à performance fez com que sua bateria não fosse apenas um acompanhamento, mas uma força motriz que empurrava a música para um lugar mais intenso e emocional. O modo como ele interagia com os outros músicos, especialmente com Chico e Matheus, fez com que cada música fosse mais do que uma peça musical; era uma conversação sem palavras, onde cada membro expressava a sua individualidade enquanto contribuía para a totalidade da banda.

Nas teclas, Carol trouxe uma leveza fluida que contrastava e ao mesmo tempo se complementava com a força rítmica da guitarra e do baixo. As suas passagens em que os teclados assumem o protagonismo deram à música uma dimensão quase sobrenatural, com acordes que pareciam flutuar no ar, criando atmosferas imersivas e introspectivas. A combinação de texturas criadas por Carol foi essencial para equilibrar a energia pulsante da banda e dar à música um toque de sonoridade sofisticada.

O concerto foi marcado por momentos de explosão sonora, mas também por instantes de profunda introspeção, onde a banda levou o público a um estado de reflexão profunda. O que ficou claro foi que, mais do que músicos, os Picanha de Chernobill são artistas autênticos, que vivem e respiram a música como uma forma de expressão pessoal. A sua história, a sua vivência e a sua experiência adquirida nas ruas do Brasil contribuíram para que cada música soasse genuína, pura e emocionante. A forma como sabem ler o público, como sabem criar uma atmosfera única a cada performance, é algo que só vem com anos de experiência e dedicação à arte de se comunicar através da música.

Em resumo, a noite no Tokio Lisboa foi mais do que um concerto. Foi uma verdadeira celebração da música — uma noite de emoção pura, onde a banda, com seu talento excepcional, soube encantar, desafiar e mover todos os presentes. Os Picanha de Chernobill provaram, mais uma vez, que a música é a sua vida, que cada acorde é uma mensagem, e que eles são verdadeiros mestres na arte de se comunicar através do som.

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