A não perder no Primavera Sound Porto: Squid - A matemática do caos
Há bandas que afinam guitarras. Squid afinam o colapso.
Formados em Brighton (cidade que adoramos) e com raízes profundas na nova vaga de pós-punk britânico, Squid não se encaixam facilmente. Tocam como se estivessem sempre prestes a desmontar-se, mas nunca caem. As baterias são labirínticas, as guitarras cortam como sirenes, os sintetizadores surgem como ruído urbano em alta definição. Tudo parece à beira do excesso e ainda assim, tudo encaixa.
Ollie Judge canta como se o mundo lhe estivesse a cair em cima (e às vezes parece que está). Grita enquanto toca bateria com uma precisão quase militar, enquanto o resto da banda salta entre instrumentos, métricas e estados de espírito. O som deles não é linear: é uma espiral ansiosa, uma arquitectura distorcida feita para provocar vertigem.
“Bright Green Field” (2021) foi a primeira implosão: um disco denso, nervoso, que soava a cidade em ebulição. Já “Monolith” (2023) é outra criatura, mais abstracta, mais misteriosa, como se tivessem deixado as máquinas correr sozinhas, e elas tivessem começado a sonhar com florestas, pânico e tempo geológico.
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