Há bandas que parecem sair de garagens abafadas, com cheiro a cimento húmido e sonhos partidos ao meio, mas Been Stellar nasce de algo mais fundo. São como cinco corpos em combustão lenta, a arder em silêncios urbanos e trovões eléctricos, filhos bastardos de uma cidade que nunca dorme e raramente escuta.

    Ouvi-los é como caminhar sozinha à noite por uma rua molhada, com os olhos cheios de néon e o peito carregado de coisas que não se dizem. As guitarras cortam como faróis rasgando nevoeiro; a bateria pulsa como o coração de alguém que ainda quer acreditar; e a voz não canta, denuncia, suplica, desafia. Cada verso é uma cicatriz aberta, cada refrão uma queda livre.

   Been Stellar não fazem música para agradar. Fazem-na como quem escreve à pressa num caderno rasgado, como quem grita dentro de um túnel a ver se há eco. Há nos seus temas uma urgência que não se ensina, uma raiva que vem de dentro, mas também uma beleza (estranha, áspera, imperfeita) que agarra.

    Com este concerto vamos testemunhar um colapso elegante, ver um grupo de jovens a exorcizar o ruído das suas cabeças, a tentar encontrar algum sentido em tudo isto, ou pelo menos, a fazer com que o caos soe bem alto.

    
Agora chegam ao Porto para o Primavera Sound e não vêm para ser descobertos, vêm para nos lembrar que há coisas que não se explicam, apenas se sentem.